Hoje, dia 22 de março de 2020, completa 04 anos do falecimento do escritor, poeta e pesquisador codoense João Batista Machado, homem que se dedicou a escreve sobre a História da nossa cidade, resgatando fatos que fizeram parte da nossa formação história. Além de escrever, incentivou a cultura escrita codoense sendo o idealizador e fundador das Instituições: Associação Cultural Codoense Antonio Almeida Oliveira, Instituto Histórico e Geográfico do Codó – IHGC e Academia Codoense de Artes, Letras e Ciência – ACLAC. Em seu legado João B. Machado nos deixou as obras magistrais: Codó, história do fundo do baú e O Imaginário Codoense.
Publicamos hoje a Bibliografia resumida de João B. Machado, escrita pelo seu amigo pessoal e companheiro de pesquisas o escritor e professor Carlos Gomes, outro baluarte que luta pela pesquisa e divulgação da nossa História. Neste contexto, publicamos também o texto do professor Valdemir Guimarães Sousa. A cidade e o seu escritor.
Dados bibliográficos do escritor codoense João Batista Machado
João Batista Machado. Escritor, nascido no dia 24 de junho de 1925, numa fazenda, do povoado São Miguel, deste município. Foram seus pais, o Sr. Marcelino da Cunha Machado e Srª Raimunda Viana Machado, proprietários de terras, criavam gado e forneciam lenha e dormentes de madeira para a Estrada de Ferro São Luis – Teresina.
Aos dez anos de idade, lia Humberto de Campos, Olavo Bilac e outros, com o prazer que têm os amantes da leitura. Ler, para ele, era a melhor coisa da sua vida; inteligência privilegiada.
Foi aluno da Escola Ferreira Bayma, mais tarde do Grupo Escolar Colares Moreira, em 1934, quando foi criado; ali concluiu o Curso Fundamental, como hoje se denomina.
Ano de 1939, retoma seus estudos; mesmo não havendo o Curso Ginasial em Codó, preparou-se e foi para São Luís, ali chegando, presta Exame de Admissão ao Colégio São Luís, e logra aprovação, classificando-se em segundo lugar, como era eficiente a educação em Codó!
Ao concluir o Ginásio em São Luís, vai para o Rio de Janeiro, em 1949, para concluir o Científico e prestar vestibular para o curso de medicina, mas não concretizou esse objetivo, porque chegando na Cidade Maravilhosa, enlevou-se, afloraram-se o vigor e as fantasias, partícipes do cotidiano de todo adolescente, todo jovem e além do mais, ficou deveras entusiasmado com o clima de liberdade que contagiava o Brasil com o pós-guerra.
Surgiram os grandes movimentos populares, e aí, não pensou duas vezes – ingressou na política estudantil, elegendo-se Secretário de Alimentação da UME (União Metropolitana de Estudantes). Participou da Campanha “O Petróleo é Nosso”, que ensejou a criação da Petrobrás. Nessa época já era estudante de Direito da Faculdade de Direito de Niterói, transferindo-se em seguida para a Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, e simultaneamente, cursava História no Instituto Lafayete de Filosofia, ainda lhe sobrava tempo para participar ativamente de movimentos literários.
Trabalhou no antigo IAPC, exercendo cargos de confiança na área administrativa, até aposentar-se por tempo de serviço em 1983. Foi membro ativo da Sociedade de Intercâmbio Cultural, colaborou em diversos Jornais do Rio de Janeiro. Participou das obras literárias: “Antologia de Poetas” da Nova Geração, compilada pelo poeta Raimundo Araújo, “Antologia da Moderna Poesia Brasileira”, “Suspeita”, peça de teatro; essas importantes obras foram prefaciadas por acadêmicos da Academia Brasileira de Letras, como Álvaro Moreira e Aníbal Machado, dos quais era grande amigo, incluindo-se também, Ledo Ivo e Alcides Pinto, poeta e romancista, este, seu companheiro de república. Foi Secretário do Teatro Popular Brasileiro, dirigido por Solano Trindade.
Assessor político do vereador pelo Rio de Janeiro, Aristides Saldanha, também, do Deputado Federal Frota Moreira, representante do Estado de São Paulo.
Politicamente, identificou-se melhor com a esquerda. Teve a oportunidade e o privilégio de conversar amistosamente com Luís Carlos Prestes, O Cavalheiro da Esperança, e com a sua irmã Heloisa Prestes. Amigo pessoal do ator e comediante Agildo Ribeiro e de seus pais Agildo Barata Ribeiro e Maria Barata.
Aposentando-se em 1983, voltou à terra berço, Codó, juntar-se a sua irmã a ilustre Mestre Maria Alice Machado, para realizar o seu grande sonho como escritor, escrevendo a sua obra prima “Codó- história do fundo do baú”, cuja noite de autógrafos aconteceu a 21 de maio de 1999, nos amplos salões da União Artística Operária Codoense. Esta obra, pela sua relevância esgotou-se logo nos primeiros dias de seu lançamento.
Este homem de alma boa e coração bom, consta da relação de grandes figuras. Continua escrevendo suas obras; recentemente, lançou em noite de autógrafos o livro “O Imaginário Codoense”, no auditório da Associação Comercial de Codó.
A cidade e o seu escritor
Conheci antes o escritor, depois a pessoa. Raras são as pessoas em Codó-MA, envolvidas com educação ou leitura, que não conhecem ou não tenham ouvido falar do escritor João Batista Machado. O livro Codó, histórias do fundo do baú foi e é um marco cultural na história recente desse município.
A cidade de Codó passou a conhecer-se, reconhecer-se nos vultos, nas autoridades, nos homens simples, em sua geografia, nos rios e riachos que a desenham, na sua religiosidade e etnia, após o escrito de João Batista Machado. Já dizia assim um poeta: “uma cidade não dita, não é uma cidade/ é um amontoado de gente sem nome, sem fome de conhecer a si”.
Toda cidade tem o seu escritor. Aquele a qual a afinidade entre o escrito e o seu reduto é tanta que o nome do autor chega a ser associado imediatamente ao da cidade. Quando se pensa em Itabira, cidade mineira, por exemplo, vem logo em mente Carlos Drummond de Andrade; São Paulo, Mário de Andrade; Goiás, Cora Coralina; Caxias-Ma, Gonçalves Dias; São Luís, Ferreira Gullar e Codó, pura encantaria, brilha, então, a figura de João Batista Machado.
Não é que não haja outros escritores nessas cidades aqui mencionadas, os há, creio que muitos, mas a cidade escolhe o seu, elege aquele que vem melhor lhe representar. E a escolha não é feita de maneira prática: melhor, pior, mais jovem ou mais velho. Não sei bem como ela processa isso, apenas o escolhe, o conclama com o “Seu”.
Pois bem, Codó assim o fez e assim teve e tem o seu escritor. Bom escritor, apegado a sua terra feito “caboco” na roça, amante do seu terreiro feito nego na dança, ligado a sua municipalidade feito europeu ao capital. Espero ver e ler escritos de mais outros autores tão bons e carismáticos como o que aqui me refiro.
E a nós, oferta-nos, agora, João Batista Machado, mais um livro, O Imaginário Codoense. Festejemos o momento, e o leiamos atentos, crentes de que o lendo, encontramo-nos cada vez mais com a nossa história, nosso povo e a nossa cidade escondida.
Texto escrito por Valdemir Guimarães Sousa – Professor Graduado em Letras Português pela UFPI. Revisor de texto e contista.
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