Paris Saint-Germain (PSG) mais uma vez tenta tirar Neymar do Barcelona. A primeira tentativa aconteceu na janela de transferências passada do verão europeu, em meados de 2016. Funcionou só para um lado – o jogador brasileiro renegociou seu contrato com o clube espanhol e elevou sua remuneração de € 6 milhões anuais para € 15 milhões por temporada. Agora, de novo, os franceses (leia-se: os catarianos) voltam à mesa de negociações. A proposta que está nas mãos de Neymar da Silva Santos, pai e empresário do atleta, extrapola tudo o que o futebol já viu até aqui em termos financeiros. E extrapola porque vem de fora do futebol.
ÉPOCA ouviu uma fonte próxima à negociação. Ao Barcelona, o PSG aceita arcar com a multa rescisória do contrato do jogador. A última renegociação estipulou esse valor em € 222 milhões para a temporada de 2017-2018, a que está para começar. O valor corresponde a mais do que o dobro registrado na maior transferência até o momento – € 105 milhões do Manchester United à Juventus por Paul Pogba. A Neymar, o clube francês propõe mais do que dobrar os atuais € 15 milhões por temporada em remuneração. Isso significa que, de um modo conservador, o brasileiro passaria a receber pelo menos € 30 milhões se topasse vestir a camisa do clube parisiense.
Não fosse comandado por um fundo de investimentos do Catar, o Paris Saint-Germain não teria condições de chutar o balde tão alto. Tomemos como base o balanço financeiro mais recente, que se refere à temporada de 2015-2016. Com a venda dos direitos de transmissão, seu departamento comercial e seu estádio, as três principais fontes de dinheiro de qualquer time de futebol no mundo, o PSG fatura € 317 milhões. Não acaba aí. Também entram no caixa € 225 milhões a título de “outros”. É ali que os catarianos registram o dinheiro que injetam para bancar a equipe. Um sinal claro de “doping” financeiro. O faturamento anual, portanto, está na casa dos € 542 milhões.
O problema é que não dá para dedicar toda a grana para a contratação de Neymar. A gastança do PSG não começou ontem, mas em 2011, quando o fundo Qatar Sports Investments (QSI) adquiriu o controle sobre o clube. O time gasta € 292 milhões com salários de atletas e comissão técnica, novamente com base nos números de 2015-2016, e outros € 145 milhões com finalidades diversas. Repare que aquele faturamento com TV, patrocínios e estádio não é suficiente para arcar com essas despesas. A soma delas chega a € 437 milhões. Dá para pagar, à risca, as remunerações. Sem o dinheiro catariano que entra no balanço como “outros”, não daria para fechar a conta. Num negócio razoavelmente normal, até para o mundo do futebol, a gastança precisaria parar por aí. Não para o QSI.
Vamos arredondar os números e passar a régua. O PSG arrecada € 542 milhões e gasta € 437 milhões. O que sobra disso, € 105 milhões, é o que o time usa para contratar jogadores. Não foram poucos nos últimos anos. O torcedor brasileiro tem vários deles na ponta da língua: Lucas, Thiago Silva, David Luiz. Entre os estrangeiros mais badalados também chegaram (e alguns saíram) Ibrahimovic, Di Maria, Cavani. O valor dá a dimensão de quão fora da curva será a contratação de Neymar se a proposta atual for aceite. Mesmo que o PSG “parcele” o pagamento ao Barça nos próximos cinco anos, seriam mais de € 40 milhões adicionais por temporada. Não há venda de camisa ou qualquer outra receita adicional que dê conta.
O mercado europeu tem pavor dos desequilíbrios gerados por grandes investidores alheios ao futebol. Os novos ricos, mais notavelmente Chelsea e Manchester City, criaram bolhas toda vez que fizeram contratações bombásticas. Por um movimento natural. É provável que o Barça use a grana para contratar quatro ou cinco atletas por valores acima do mercado, e seus clubes anteriores por sua vez farão o mesmo. Isso complica a vida de concorrentes, eleva salários desnecessariamente, força prejuízos. Não por acaso os europeus estabeleceram o fair play financeiro, um conjunto de regras e restrições, depois que Chelsea e City gastaram os tubos em aquisições com dinheiro de magnatas russos. Se Neymar topar a troca do Barcelona pelo PSG, anote aí: o futebol europeu voltará a estremecer.
Neymar e PSG (Foto: ÉPOCA)
Fonte: Época