MC Poze do Rodo foi preso nesta quinta-feira (29) no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro, suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas e de apologia ao crime.

Para a polícia, Poze usa suas músicas para fazer propaganda do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do RJ.

“Esse suposto MC que foi preso transformou a música num instrumento de dominação, divulgação e disseminação da ideologia e da narcocultura do Comando Vermelho”, disse o secretário estadual de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.

“As letras enaltecem o uso de armas de grosso calibre e o uso de drogas, além de fomentar guerras e disputas territoriais com facções criminosas rivais”, acrescentou.

Em suas músicas, Poze faz menções explícitas ao CV, com trechos que a polícia aponta como exaltação à facção e desprezo por grupos rivais.

Veja exemplos:

🎵Fala que a tropa é Comando Vermelho

Oi, na VK os menor te acerta
Só soldado bom de guerra
Que te mira e não te erra
Só 
AKzão na favela
Com vários 
pentão reserva
Aonde entrar, cês leva

É bala nos 
três c*, é bala nos três c*
De 
62 é só papum e os alemão aqui nem tenta
De 
Glock e de radin, fumando um baseadin
Destrava o 
G3zão que se piar, nós quebra

📝Contexto: VK é Vila Kennedy, comunidade de Bangu dominada pelo Comando Vermelho; AKzão, 62 e G23 são modelos de fuzil. Pentão reserva é a munição à disposição da facção. Três c* é uma gíria para os rivais, assim como alemão. Glock é um modelo de pistola.

🎵Tropa do general

Os TCP*ta tá peidando pro bloco dos cria
Nós odeia 
ADA e TCP
Desde menor sou Comando, nós é relíquia
Trem bala dos manos
Com os fuzil tudo na pista, ah, ah, ah
Tropa do General com vários 
ParaFAL

📝Contexto: TCP e ADA são rivais históricos do Comando Vermelho. A Amigos dos Amigos era a 2ª maior facção do RJ, mas foi superada pelo Terceiro Comando Puro. E ParaFAL é outro modelo de fuzil.

🎵Na CDD só tem bandido faixa preta

Oi, que a tropa tá na pista
Geral com fuzil na mão
Se tentar no 
Karatê, vai tomar só rajadão
Se pisar no 15 você vai ficar f*dido
Que é só os pitbull de raça
Brabo na troca de tiro

Nós tem Glock, tem AK, 62 com mira laser
Terror dos alemão, é os moleque da 13
Nós vamo voltar pra casa e botar a bala pra comer
Retomar o que é nosso e gritar: É o CV!

Na CDD só tem bandido faixa preta
Tentaram vir pegar o homem e a bala voou
Nós é Comando Vermelhão de natureza
A meta é voltar pro 
Rodo e voltar pro Batô

📝Contexto: a letra cita localidades da Cidade de Deus (CDD), como Karatê, 13 e 15, e fala de comunidades perdidas para rivais, como o Rodo, em Santa Cruz, e o Bateau Mouche (ou Batô), em Jacarepaguá.

Crime de apologia

A apologia ao crime é tipificada no Artigo 287 do Código Penal Brasileiro. Em linguagem simples, significa defender, elogiar ou incentivar um crime ou um criminoso em público, como se a prática fosse justificável ou admirável. A pena pode ser de 3 a 6 meses de prisão, ou multa.

Segundo a Polícia Civil, o conteúdo das músicas de MC Poze extrapola o limite da liberdade de expressão artística e se enquadra claramente no tipo penal, ao promover ações criminosas e enaltecer uma organização que atua com violência, tráfico e armas de guerra.

“As músicas desse falso artista têm um alcance incalculável e, muitas vezes, são muito mais lesivas do que um tiro de fuzil disparado por um traficante”, disse Curi.

Bailes e fortalecimento da facção

Os shows de MC Poze, segundo as investigações, ocorrem exclusivamente em comunidades sob domínio do Comando Vermelho. Nessas apresentações, traficantes armados com fuzis fazem a segurança do evento — o que, segundo a polícia, reforça o domínio territorial da facção.

Os bailes também seriam uma forma de movimentar o tráfico, aumentando o consumo de drogas e o faturamento do CV, que usa o lucro dos shows para comprar armas.

As investigações seguem para identificar outros integrantes e financiadores dos eventos, que, segundo a polícia, contribuem diretamente para o fortalecimento do crime organizado nas comunidades.

Com informações do G1