A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ignorou decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e voltou a divulgar conteúdo relacionado ao episódio em que Jair Bolsonaro disse ter “pintado um clima” em visita a venezuelanas menores de idade. No canal do Telegram “Evangélicos com Lula”, listado como um dos perfis oficiais pelo próprio candidato do PT, uma nova montagem de 1 minuto e 39 segundos foi divulgada com a mesma fala objeto da decisão judicial.
O vídeo, que associa o presidente da República à pedofilia, começa com uma locutora afirmando: “Bolsonaro relata interesse em meninas menores de idade”. Em seguida, é reproduzida a fala que gerou polêmica e foi explorada durante o fim de semana pela campanha petista.
— Me chamou a atenção: meninas bonitinhas. Eu olhei para trás, três ou quatro meninas bonitas, de 14, 15 anos, pintou um clima, voltei — diz Bolsonaro no trecho do vídeo.
A locutora então afirma que “há quem diga” que Bolsonaro falou “pintou um clima” em sentido diverso de desejo ou atração. Mas a narradora pergunta: “É mesmo?”. E então o vídeo prossegue com trecho de entrevista do presidente da República ao podcast “Flow”, ocasião em que Bolsonaro dá conotação sexual à expressão:
— Dá uma apimentada aí. Daqui a pouco vai pintar um clima aí. E se pintar o clima eu sou o marido, vou deixar bem claro — diz Bolsonaro ao apresentador do podcast.
O vídeo ainda mostra trecho de uma live gravada no Palácio da Alvorada em que Bolsonaro interrompe uma youtuber mirim que falava sobre sua carreira. Ela havia dito que tinha “começado cedo”, sem citar a palavra “carreira”. O presidente então pergunta com insistência, sorrindo: “Começou o que? O que que é? Começou cedo, como assim?”.
Outro trecho mostra Bolsonaro afirmando: “Se alguém quiser namorar uma filha nossa de dez anos de idade e engravidá-la, pode!”. A peça ainda termina com uma citação bíblica e a narradora apontando que “Bolsonaro não respeita, não cuida e não ora” pelas crianças.
Acompanhado do vídeo, há um texto enviado pelo aplicativo que diz que “pedofilia não é de Deus e Bolsonaro nunca representará os valores e princípios da Igreja de Jesus”.
“O vídeo não foi editado, a fala não foi retirada de contexto e Bolsonaro usa sim a expressão ‘pintou um clima’ com conotação sexual”, diz a mensagem.
Procurados, a campanha de Lula e o TSE não se manifestaram, até o momento, sobre o conteúdo postado pelo canal oficial no Telegram.
Na decisão judicial, Alexandre Moraes determinou a remoção de conteúdo relativo ao tema e listou todos os canais da campanha de Lula na internet, inclusive a conta do Telegram “Evangélicos com Lula”.
O magistrado também determinou que a campanha se “abstenha” de promover novas manifestações sobre “os fatos tratados” em representação protocolada pela campanha de Jair Bolsonaro, “tanto em concessionárias do serviço público como nas redes sociais, sob pena de multa diária” de R$ 100 mil. Ou seja, em tese, o PT estaria impedido de usar o material na TV, no rádio ou em qualquer plataforma digital.
A decisão veio após provocação da campanha de Bolsonaro. Moraes ordenou ainda que TikTok, Instagram, Linkedin, YouTube, Facebook e Kway tirem do ar conteúdo postado pela campanha de Lula relacionado ao tema.
“A divulgação de fato sabidamente inverídico, com grave descontextualização e aparente finalidade de vincular a figura do candidato ao cometimento de crime sexual, parece suficiente a configurar propaganda eleitoral negativa, na linha da jurisprudência desta CORTE, segundo a qual a configuração do ilícito pressupõe ‘ato que, desqualificando pré-candidato, venha a macular sua honra ou a imagem ou divulgue fato sabidamente inverídico'”, escreveu Alexandre de Moraes.
Apesar de a liminar ter sido dada por Moraes, a ação está sob a relatoria da ministra Cármen Lúcia. Segundo O GLOBO apurou, advogados da campanha de Lula esperam que a decisão possa seja revertida, já que os vídeos divulgados antes da proibição apenas traziam a fala do próprio presidente sobre o assunto, sem “trucagem”.
Com informações do Jornal O Globo
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