Pesquisadores da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) descobriram, descreveram e nomearam mais um gênero novo de moscas, e, desta vez, resolveram selar cientificamente uma parceria de quase 25 anos colocando o nome Inpauema. O Inpauema torna público, universaliza e eterniza a parceria entre a UEMA e o INPA.
O pesquisador Francisco Limeira de Oliveira, ao analisar determinada amostra de moscas coletadas no Parque Estadual do Mirador (Mirador) e no Parque Nacional Chapada das Mesas (Carolina) presentes no acervo da Coleção Zoológica do Maranhão (CZMA), que fica na UEMA Campus Caxias, identificou um gênero novo e duas espécies novas Inpauema mirador (homenagem à localidade tipo do gênero novo) e Inpauema gaimarii (homenagem ao Dr. Stephen Gaimari, pesquisador americano que contribui para o estudo das moscas na América do Sul).
“No material da família Odiniidae, estava um grupinho de moscas marrons muito bonitas e que não tinha nada escrito sobrenenhum gênero”, lembra Francisco, que também é curador da CZMA.
O Inpauema passa a ser caracterizado por uma combinação única de caracteres: corpo predominantemente marrom escuro a preto, com manchas de pruinose prateadas na margem interna dos olhos, além de outros aspectos.
Esse achado no acervo da CZMA motivou a equipe de pesquisadores a analisar, também, o acervo de Diptera da Coleção de Invertebrados do INPA onde foram encontradas mais três espécies novas. A amostra encontrada no acervo do INPA foi coletada nos estados do Amazonas: Inpauema catarinae (homenagem à pesquisadora do INPA Catarina da Silva Motta, in memoriam.) e Inpauema xavieri (homenagem ao técnico do INPA, Francisco Felipe Xavier Filho, coletor de vários exemplares amazônicos). Além dessas, também encontraram a denominada Inpauema raimundoluizi (homenagem ao professor da UEMA, Raimundo Luiz Ferreira de Almeida), espécie registrada exclusivamente para o estado do Pará.
Os participantes dessa descoberta foram o pesquisador Francisco Limeira, o coordenador de Biodiversidade do INPA, José Albertino Rafael e duas egressas do Curso de Biologia do Campus Caxias, Dayse Marques e Geniana Reis.
Francisco Limeira destacou a importância da área do Parque do Mirador na descoberta. “No Parque do Mirador está o grande achado de outros gêneros novos de moscas. Nele foi onde encontramos o número recorde de exemplares do gênero Inpauema. É a área que está no mapa da biodiversidade como um local que tem uma riqueza de espécies e gêneros novos”, disse.
A pesquisa foi publicada recentemente na revista científica Zootaxa (http://www.mapress.com/j/zt), um dos principais periódicos para taxonomistas na área de Zoologia.
O estudo contou com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do projeto Rede Bionorte, Rede de Biodiversidade de Insetos na Amazônia (Rede-BIA) e do Programa de Pesquisa em Biodiversidade – PPBio – Rede Cerrado.
Parceria entre UEMA e INPA
Iniciou em 1996, quando Francisco Limeira de Oliveira foi fazer mestrado e doutorado no INPA. Ao retornar para Caxias, iniciou a montagem da Coleção Zoológica do Maranhão (CZMA), que vem se destacando nacional e internacionalmente pelo valioso acervo.
Com a experiência da fauna da Amazônia adquirida no INPA, começou a atuar na fauna maranhense, principalmente a do Cerrado e ampliou seus estudos para a fauna da Caatinga. Isso também instigou o pesquisador do INPA, José Albertino, para conhecer a fauna da região maranhense. A partir daí, houve uma maior aproximação entre as duas instituições para que os insetos coletados em biomas diferentes fossem estudados e esta parceria já dura mais de 22 anos. Dessa parceria já foram produzidos 20 trabalhos científicos publicados em artigos e capítulos de livros.
Coleção Zoológica do Maranhão (CZMA)
Criada em 1997, objetiva coletar informações sobre a biodiversidade do Nordeste brasileiro, em especial, na região Meio Norte (Maranhão e Piauí), que é pouco explorada sob o ponto de vista da biodiversidade.
Além de destinar-se ao depósito de exemplares coletados nos diversos ecossistemas dos estados do Maranhão, Piauí e região atua, também, como acervo biológico de referência para comprovação das pesquisas realizadas e consultas especializadas e didáticas.
De acordo com Francisco Limeira, a coleção biológica tem o mesmo papel de uma biblioteca, ou seja, de assegurar para a posteridade o testemunho daquilo que foi descrito ou escrito no passado e no presente, servindo de guardiã da história da biodiversidade e da evolução do pensamento humano.
Parque do Mirador
O Parque Estadual do Mirador se constitui em uma área estratégica para a conservação brasileira e, em especial, do Maranhão. Abriga as nascentes do rio Itapecuru, genuinamente maranhense e, talvez, o mais importante do estado por garantir água potável para quase dois milhões de habitantes (Mirador, Colinas, Eugênio Barros, Gonçalves Dias, Caxias, Codó, Coroatá, Rosário, Bacabeira e São Luis), além de uma rica biodiversidade.
Muito da fauna existente no Parque ainda é totalmente desconhecida pela ciência. Centenas de espécies novas têm sido descritas desse Parque e, nos últimos quatro anos foram descritos alguns gêneros novos como Mirador Martins, Santos-Silva, Galileo & Limeira-de-Oliveira, 2014, Cumaru Casari, 2017, Toctoc Casari, 2014, Longivena Vieira & Rafael, 2014, Inpauema Limeira-de-Oliveira, Marques, Reis & Rafael, 2017; os três primeiros são besouros (Coleoptera) e os dois últimos são de moscas (Diptera).
Ascom
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