O pequeno Carlos Augusto mora na isolada comunidade Parque Primavera, povoado do município de Alcântara (MA), e tinha um único sonho: estudar. Com nove anos de idade, Carlos Augusto estava fora da sala de aula porque não possuía certidão de nascimento.
“Eu nunca estudei porque eu não tenho registro. Sentia uma culpa no coração porque eu nunca tinha estudado e eu não gostava disso. Meu maior sonho é estudar. Um dia eu quero ser alguma coisa na vida”, diz a criança.
A vida de Carlos Augusto mudou quando ele foi encontrado por equipes de mobilização do Busca Ativa Escolar, estratégia promovida pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para combater o abandono e a evasão nas escolas estaduais.
Com o lema “Fora da Escola não Pode”, o Busca Ativa Escolar vem mudando a realidade de crianças como Carlos Augusto, que finalmente passou a frequentar uma escola. No dia do seu aniversário, Carlos Augusto ganhou de presente uma festinha especial (a primeira festa de aniversário de sua vida!) e os aplausos dos novos amigos de escola, que o receberam em seu primeiro dia de aula.
“Agora eu tô estudando. Foi no dia do meu aniversário que eu entrei pela primeira vez [na escola]. Eu fiquei meio que ‘coisado’, porque os meus amigos bateram palma pra mim e eu nunca tive aniversário com festinha. Eu fiquei feliz, quase chorei”, conta Carlos Augusto.
O Busca Ativa tem duas frentes básicas de trabalho: a busca (a captação e a inserção do aluno na escola com a matrícula) e a permanência do estudante na escola.
Diante do contexto de pandemia, foi necessário um novo olhar para essa estratégia bem-sucedida da Unicef, para sistematizar as informações e ajudar na reintegração dos estudantes às atividades escolares.
Nas buscas, as equipes entregam chips, apostila, em alguns casos kits alimentação e muita conversa para conscientizar os estudantes da importância de retomarem as atividades educacionais e concluírem o ano letivo.
“Quero terminar os estudos e ajudar minha família”
Foi graças à Busca Ativa Escolar que as gêmeas Shara Marques e Samira Marques, de 15 anos, retornaram à sala de aula. Moradoras do pequeno povoado Remédios, também em Alcântara, as irmãs estavam fora da sala de aula porque a mãe doente não tinha condições de pagar o transporte.
“Estudar é uma coisa boa e eu sou muito arrependida por ter largado meus estudos. Chorei muito de arrependimento. Eu quero muito terminar meus estudos, fazer uma faculdade, fazer um curso pra ser uma cirurgiã no futuro e ajudar minha família”, confidencia Samira.
Para o secretário de Estado da Educação (Seduc), Felipe Camarão, a iniciativa mudou a lógica de atuação do poder público maranhense em relação à comunidade escolar.
“A gente não espera mais o estudante ou sua família querer que ele volte para a escola. Nós vamos atrás para saber onde esse estudante vive e entender por que ele deixou a escola. Com isso resgatamos esse vínculo importante com o aprendizado”, pontua o secretário.
“O Maranhão está cumprindo seu papel”
A chefe do escritório da Unicef no Maranhão, Ofélia da Silva, avalia que o Estado vem fazendo sua parte para garantir o direito universal a uma educação de qualidade.
“O Maranhão está cumprindo seu papel. A gente sabe que tem um esforço muito interessante, muito importante de todos os atores envolvidos na educação do Maranhão para levar o nível do desenvolvimento do Estado a outro patamar. Fora da escola não se consegue isso”, enfatiza Ofélia.
Desde 2019, o Maranhão já desenvolve a Busca Ativa Escolar no âmbito do Pacto pela Aprendizagem e do Selo Unicef, nos municípios.
Mais recentemente, em parceria com o Instituto Sonho Grande, as escolas em Tempo Integral (IEMAs e Centros Educa Mais) também iniciaram o Projeto Ligação do Bem, com o objetivo de fomentar a Busca Ativa e evitar a evasão.
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