Assassino confesso da ex-companheira, a cabeleireira Sarah Jersey Nazareth Pereira, de 23 anos, Queven da Silva e Silva, de 26, só foi preso pouco depois do crime graças à intervenção da própria mãe. Em depoimento prestado na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), a mulher — uma auxiliar de serviços gerais de 40 anos — contou que, ao tomar conhecimento do que havia acontecido, passou a tentar localizar Queven, para que ele se apresentasse às autoridades. Sarah foi morta a tiros no fim da madrugada desta terça-feira, no Centro do Rio, na residência que dividia com a mãe, uma irmã e os dois filhos que teve com o executor. A bebê de 2 meses e o menino de 4 anos estavam em casa no momento em que o pai invadiu o local e abriu fogo.

No termo de declaração da mãe de Queven, obtido pelo GLOBO, ela relata que, por volta das 5h, recebeu uma mensagem de um outro filho na qual ele contava ter ouvido “um boato” de que o irmão “tinha feito alguma coisa ruim com Sarah”. A mulher diz que passou a tentar fazer contato com o rapaz “por diversas vezes”, até que recebeu como resposta uma confissão, na qual era citada uma suposta traição, embora o casal já estivesse separado. “Ela estava me traindo. Eu avisei: ‘Faz o que for, mas não me trai'”, escreveu Queven para a mãe, segundo o depoimento.

Mais tarde, a mulher soube que o filho estava no Morro dos Prazeres, na Região Central do Rio, onde ambos vivem. Ela afirma que foi, então, “ao encontro de Queven, estando ele drogado e bêbado”, mas que “o convenceu a se entregar”. Outro documento anexado ao inquérito da DHC, no qual é formalizada a prisão em flagrante do assassino, detalha que, apesar de ter “aceitado inicialmente” a sugestão, o rapaz passou a resistir à ideia, “razão pela qual” a mãe “o amarrou, com auxílio de outros familiares”.

Em seu depoimento, a mãe do criminoso explica que os parentes “tiveram receio de Queven desistir e fugir no meio do caminho” e que, “sendo assim, amarraram os pés e as mãos”, dele. O grupo, então, desceu com o rapaz imobilizado até a Rua Almirante Alexandrino, uma das principais vias de acesso à comunidade, “onde foram recebidos pelos policiais militares”, ainda conforme o relato da mãe aos agentes.

Inicialmente, o porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Ivan Blaz, chegou a divulgar que Queven teria sido alvo do “tribunal do tráfico”, que não teria aceitado o crime e iria executá-lo. Ele contou que o assassino foi localizado por uma equipe do 5º BPM (Praça da Harmonia) amarrado e acabou resgatado pelos agentes. O depoimento da mãe só foi prestado na especializada depois que essa primeira versão veio a público.

A auxiliar de serviços gerais também falou aos investigadores sobre as ligações pregressas do filho com o crime organizado — ele possui 47 passagens pela polícia, incluindo roubo, tráfico de drogas e homicídio, e estava foragido da Justiça do Rio desde 2016. Havia pelo menos oito mandados de prisão em aberto contra Queven. A mãe confirmou que ele “já fez parte do tráfico de drogas do Morro dos Prazeres”, mas que acredita que, atualmente, o filho é “apenas usuário de drogas, apesar de ainda manter amizade com os traficantes locais e conviver no meio deles”. Ela contou que ele usa “cocaína e lança-perfume”, nunca tendo sido “internado para tratamento de dependência química”.

Ao ser ouvida, a mulher também comentou o relacionamento de cerca de sete anos mantido pelo filho com Sarah. Assim como outras testemunhas, ela lembrou que a convivência dos dois “sempre foi conturbada, com diversas brigas”. “Queven já agrediu Sarah em outras duas oportunidades, tendo ela sido hospitalizada e internada em razão das agressões”, disse a mãe do assassino.

De acordo com policiais da DHC que estiveram no local do crime, o rapaz chegou à casa da vítima por volta de 4h20 e fez três disparos para cima. Ao entrar na casa, Queven atirou diversas vezes contra a mulher, que morreu na hora. No quarto onde estava Sarah, peritos da Polícia Civil encontraram 16 cápsulas de pistola.

A cabeleireira foi enterrada na tarde desta quarta-feira, no Cemitério do Catumbi, na Região Central do Rio. O sepultamento foi acompanhado por cerca de 40 parentes e amigos, que não quiseram dar declarações. Já Queven deve passar por audiência de custódia nesta quinta-feira, como informou o Tribunal de Justiça do Rio.

Com informações do Jornal O Globo