O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à reta final das convenções partidárias com a coligação mais robusta da disputa, dez partidos, obtendo o maior espaço na propaganda eleitoral na TV e rádio, que começa no dia 26.

Lula deve ter cerca de 3 minutos e 20 segundos a cada bloco de 12min30seg, além de uma média de 7,5 pequenas propagandas diárias de 30 segundos veiculadas nos intervalos comerciais das emissoras, as chamadas “inserções”.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparece em segundo nas pesquisas eleitorais, reuniu três partidos em sua coligação e terá o segundo maior espaço de propaganda, cerca de 2 minutos e 40 segundos, além de 6 inserções diárias.

Embora tenha perdido parte do protagonismo com a ascensão das redes sociais, a propaganda eleitoral na TV e rádio é peça fundamental de toda a campanha política devido a alguns fatores: em primeiro lugar, o potencial de alcance.

As inserções, em especial, têm potencial de atingir eleitores que não assistem aos blocos fixos na TV e rádio.

Segundo, a propaganda é veiculada na reta final -ela vai de 26 de agosto a 29 de setembro, apenas três dias antes do primeiro turno-, momento de maior atenção da população à disputa.

O material produzido e veiculado, e que geralmente é testado previamente em pesquisas direcionadas com grupos de eleitores, tem histórico de alavancagem de candidatos e, também, de destruição de adversários.

O derretimento de Marina Silva após ser alvo da propaganda petista, em 2014, é um exemplo simbólico nesse sentido.

Em 2018 nada disso adiantou, entretanto, e Bolsonaro foi eleito mesmo tendo tempo de TV de nanico, mas a análise predominante no mundo político é a de que aquela foi uma eleição atípica, cujas circunstâncias dificilmente se repetirão.

Entre outros pontos, aquela disputa abrigou uma onda de direita e antipolítica, além de Bolsonaro ter sofrido um atentado que quase lhe tirou a vida e que lhe colocou por semanas no centro do noticiário político nacional.

O terceiro maior tempo de televisão ficará com Simone Tebet (MDB), que atraiu o apoio de PSDB, Cidadania e, na reta final, do Podemos.

Ela deve ter cerca de 2 minutos e 20 segundos por bloco, além de 5 inserções diárias. A exposição é vista por sua campanha como crucial para que ela cresça eleitoralmente e se desloque do pelotão que gira em torno do traço nas pesquisas.

A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) terá um tempo de propaganda também relevante, devido ao tamanho da sigla pela qual é candidata, resultado da fusão do DEM com o PSL. Ela terá cerca de 2 minutos e 10 segundos por bloco e 5 inserções diárias.

Thronicke assumiu a candidatura recentemente, após a desistência do presidente do partido, Luciano Bivar.

Ciro Gomes (PDT), que está em terceiro nas pesquisas, não conseguiu atrair partidos aliados e terá o quinto tempo de propaganda na sua quarta tentativa de chegar à Presidência da República. Cerca de 50 segundos por bloco, e 2 inserções diárias.

Os números são uma projeção da Folha com base na legislação eleitoral. Eles podem mudar caso o número de candidatos se altere devido a decisões judiciais ou se as coligações sofrerem baixas –o prazo para registro dos candidatos e coligações vai até às 19h do dia 15, véspera do início oficial do período de campanha.

Caso se confirme a coligação em torno do nome de Lula, ela igualará o recorde de Dilma Rousseff em 2010, que também reuniu apoio de dez partidos.

Uma das siglas da coligação, porém, o Pros, passa por atribulada disputa judicial que já resultou em três reviravoltas na última semana. Por ora, está no comando a ala que patrocina o apoio a Lula.

Bolsonaro caminhava para ter um tempo de propaganda similar ao de Lula, mas na reta final não conseguiu manter o apoio formal do PTB e do PSC.

A divisão da propaganda, pela lei, é definida proporcionalmente ao peso dos partidos que formam a coligação.

As propagandas no rádio e na TV fizeram a fama de figurões do marketing político como Duda Mendonça, que morreu no ano passado, e João Santana, chefe da propaganda das campanhas vitoriosas de Lula em 2006 e de Dilma em 2010 e 2014.

Após virar alvo da Lava Jato e negociar delação premiada, ele rompeu com o PT e é desde o ano passado o marqueteiro de Ciro Gomes. Até agora, porém, o trabalho feito por ele nas redes sociais não conseguiu alavancar as intenções de voto do pedetista.

Amparado em uma estratégia focada exclusivamente nas redes sociais em 2018 -à exceção do segundo turno, quando teve tempo de TV igual ao do adversário, Fernando Haddad (PT)–, Jair Bolsonaro não teve marqueteiro há quatro anos.

O próprio candidato e seus filhos, em especial o vereador Carlos Bolsonaro (RJ), decidiam a estratégia de comunicação.

Na campanha atual, o centrão fez valer em termos a sua influência na coligação.

Duda Lima –profissional levado pelo presidente do PL, Valdemar da Costa Neto– tem apoio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha do pai, mas enfrenta má vontade e fogo amigo, em especial da ala mais radical próxima ao presidente.

Carlos Bolsonaro segue responsável pelas redes sociais do pai e já chegou a expressar publicamente desdém ao que classificou de “esse papo de profissionais do marketing”.

Líder nas pesquisas, Lula trocou de marqueteiro em abril após uma crise interna na comunicação da pré-campanha. No lugar de Augusto Fonseca, que era uma indicação do ex-ministro Franklin Martins, assumiu Sidônio Palmeira, marqueteiro dos governadores petistas da Bahia Jaques Wagner e Rui Costa.

A campanha de marketing de Tebet está a cargo de Felipe Soutello, que tem um histórico dentro do PSDB.

Por RANIER BRAGON (FOLHAPRESS)