A Justiça iniciou nesta quinta-feira (22) o julgamento de Marina Célia Lopes da Cruz Oliveira e Guilherme Osório de Oliveira, acusados de se apropriar indevidamente de 20 mil sacas de café armazenadas em Altinópolis (SP). O montante é avaliado em cerca de R$ 63 milhões.
O casal chegou a ser preso em janeiro deste ano, mas teve a prisão preventiva revogada em abril. Ambos respondem por apropriação indébita qualificada, crime caracterizado pela comercialização ou obtenção de vantagem econômica com bens de terceiros.
As defesas dos acusados foram procuradas, mas não se manifestaram até a publicação desta matéria.
Prejuízo milionário
Produtores rurais prejudicados compareceram ao Fórum de Altinópolis, alguns como testemunhas. O produtor Osmar Cardoso da Silva relatou um prejuízo estimado em R$ 1,6 milhão, referente ao sumiço de 675 sacas de café que estavam sob a guarda do casal.
“Negociávamos com eles há 10 anos e nunca houve problemas. Mas, na última venda, começaram a atrasar os pagamentos. Quando fomos ao escritório tentar resolver, eles já não estavam mais lá. É uma sensação de perda. Foram anos de trabalho para conquistar esse patrimônio”, desabafou Osmar.
A produtora Patrícia Crivelenti, que atua na região de Altinópolis e Itamogi (MG), estima um prejuízo ainda maior: R$ 18 milhões. Segundo ela, o último contato com Marina e Guilherme ocorreu no dia anterior à fuga do casal.
“Fomos até eles sem avisar, preocupados com rumores de que o café teria sido desviado. Tocamos a campainha, demoraram a atender. Na conversa, ficou claro que o estoque prometido não existia”, disse.
Patrícia afirma que, apesar da longa relação de confiança desde 2020, a postura do casal no encontro levantou suspeitas.
“Eles diziam que iriam acertar tudo, mas demonstravam muito nervosismo. O estoque parecia diminuir a cada minuto. No domingo, conforme combinado, voltamos — e eles já tinham desaparecido”, relatou.
Investigação
O processo corre em segredo de Justiça. A previsão é de que a sentença seja proferida nos próximos dias, após o depoimento de réus, testemunhas e vítimas.
As vítimas utilizavam os armazéns do casal para guardar suas colheitas com o objetivo de comercializá-las futuramente. Após as denúncias, a polícia vistoriou os galpões e constatou que estavam vazios.
Há suspeitas de que o café tenha sido vendido no exterior. Pelo menos 22 bens do casal foram bloqueados pela Justiça.
Marina e Guilherme atuavam no ramo de armazenagem de grãos há mais de dez anos e mantinham uma relação de proximidade com os produtores da região. Eles chegaram a ser considerados foragidos e foram localizados em Caraguatatuba (SP) no dia 28 de janeiro. Permaneceram presos até abril e, atualmente, respondem ao processo em liberdade, cumprindo medidas cautelares.
Deixe um comentário