Estudo aponta que jovens priorizam a flexibilidade do trabalho remoto mesmo diante de crescimento salarial mais lento
Uma nova geração de trabalhadores está redefinindo o que significa sucesso profissional. Dados de uma pesquisa conduzida nas universidades de Nottingham, Sheffield e King’s College London, no Reino Unido, revelam que jovens – ao lado de mulheres e pessoas que vivem longe do local de trabalho – são os grupos que mais demonstram preferência pelo home office.
Mesmo cientes de que o crescimento salarial nessa modalidade pode ser até 7% mais lento do que no trabalho presencial, eles valorizam os benefícios não monetários. Profissões que permitem maior autonomia, como a de profissional de pesquisa online, jornalista, analista de TI e designer estão entre as mais desejadas.
O levantamento, conduzido por economistas, aponta que os britânicos estão dispostos a abrir mão de até 8,2% da renda para manter a possibilidade de trabalhar remotamente por dois ou três dias na semana. A justificativa está na flexibilidade de horários, economia com transporte e alimentação, além de maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
“Trabalhar de casa representa um aumento de benefícios sem, necessariamente, gerar desigualdade entre trabalhadores”, afirma Jesse Matheson, professor da Universidade de Sheffield.
Brasil também surfa na tendência
Além do Reino Unido, pesquisas feitas no Brasil também confirmam a tendência: 94% dos profissionais em regime remoto ou híbrido afirmam que suas vidas melhoraram com a adoção desse modelo. Os dados são de um levantamento de 2024 realizado pela em parceria pela FEA USP e FIA Business School.
A pesquisa ouviu mais de 1.300 profissionais de diversas áreas que atuam em home office ou regime híbrido. O foco foi entender aspectos como condições de trabalho, satisfação, desempenho, comprometimento e cultura organizacional.
Segundo o estudo, 88% dos entrevistados consideram que a qualidade do trabalho remoto é igual ou superior à do modelo presencial, e 91% afirmam que sua produtividade aumentou ou se manteve estável nesse formato. Cargos de entrada e de execução simples, como o de profissional de digitação, têm se beneficiado desse cenário.
A possibilidade de executar tarefas com autonomia e sem a necessidade de deslocamentos longos tem atraído jovens que buscam flexibilidade para estudar, cuidar da saúde ou conciliar com outras atividades. Além disso, esse tipo de ocupação exige apenas um computador e conexão estável com a internet, o que facilita o acesso de quem está começando no mercado.
A pesquisa também revelou que mais de 70% dos profissionais acreditam ter as mesmas oportunidades de crescimento que seus colegas presenciais, contrariando a ideia de que o trabalho remoto gera isolamento ou limita o desenvolvimento. Ainda assim, cerca de 60% reconhecem que falta valorização e reconhecimento por parte das empresas.
Desafios e oportunidades do home office
Apesar das vantagens, o modelo remoto ainda enfrenta resistência de setores mais tradicionais. Grandes empresas como Amazon e JP Morgan já exigem que seus funcionários estejam presencialmente no escritório durante a maior parte da semana. As justificativas são variadas: desde o impacto na produtividade até a dificuldade em manter o espírito colaborativo das equipes.
No entanto, especialistas argumentam que a produtividade em modelos híbridos é comparável à do trabalho totalmente presencial. Nicholas Bloom, economista da Universidade de Stanford, defende que permitir dois dias de trabalho remoto por semana pode ter valor equivalente a um aumento salarial de 8% na percepção do funcionário.
O trabalho remoto também transforma as economias locais. Quando um profissional passa a trabalhar de casa, tende a consumir mais nos arredores de sua residência, o que pode gerar novos empregos presenciais em cafeterias, mercados e serviços de bairro.
No Brasil, a adoção do home office foi acelerada pela pandemia, mas aparentemente veio para ficar. Segundo levantamento da KPMG, 61,82% das empresas já implementaram modelos híbridos ou flexíveis de forma permanente. Ainda que 33% das companhias tenham retornado ao regime 100% presencial, há espaço para evolução nas políticas que acolhem os trabalhadores remotos.
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