O repórter fotográfico Matheus Tagé, do Grupo Tribuna, foi ameaçado por três golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao fotografar um ‘desmanche de acampamento’ em frente à Fortaleza de Itaipu, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Um dos homens estava com uma faca enquanto intimidava o profissional . Ao g1, ele contou, nesta terça-feira (10), detalhes sobre o ocorrido, que o fez sentir indignação por ter sido impedido de trabalhar. Ninguém se feriu.
A situação aconteceu na Avenida Marechal Mallet, no bairro Canto do Forte. “Cheguei lá com o carro ‘descaracterizado’ e sem crachá, pois já sabemos como essas coisas funcionam. Quando eles me viram fotografando, vieram na minha direção perguntando o que eu estava fazendo, quem era e onde trabalhava”. O profissional disse ter buscado, sem sucesso, o diálogo mesmo enquanto era ameaçado.
“Disseram que não autorizavam as fotos e expliquei que estava na rua e poderia fotografar sem pedir autorização. Me ameaçaram dizendo que o ‘bicho ia pegar’ se publicasse fotos dos rostos deles”, lembrou Tagé.
Ainda de acordo com Matheus Tagé, ao notar a situação tensa, um policial militar, que não teve a identidade divulgada, o chamou para conversar distante do trio. “Me perguntou onde eu trabalhava e pediu meu documento, mas devolveu depois. Perguntei a ele se tinha feito algo errado, e me disse que não, mas recomendava que eu ‘fosse embora’ por conta do ‘clima’ que estava ali”.
Ao deixar o espaço, o repórter fotográfico foi perseguido pelos três homens até o local onde o carro estava estacionado. “Vieram atrás de mim e me filmaram com os celulares. Eu estava nervoso na hora, mas consegui entrar [no veículo] e ir embora”.
Ameaças e sentimento
Por conta da ação dos homens, o registro jornalístico não foi executado da maneira planejada por Tagé. “Interferiram no meu trabalho. Eu poderia ter fotografado por mais tempo. Senti que, caso não tivesse a interrupção por parte da PM, teria um problema ali“.
“É uma situação absurda, lamentável e antidemocrático. Você não pode exercer o jornalismo? A gente fica com medo de sair na rua. Não podemos tolerar nem uma gota de intolerância e de violência que impeça o nosso livre e democrático trabalho jornalístico”.
O profissional acrescentou que esta não foi a primeira vez em que foi hostilizado enquanto trabalhava na rua, assim como demais colegas.
“Durante o período de restrições por conta da pandemia, fotografei as manifestações do pessoal que era ‘contra tudo’, ou seja, quarentena e vacina. Era o mesmo perfil, mas menos ‘radicalizado’ na época”. Tagé registrou um Boletim Eletrônico de Ocorrência.
Prefeitura lamenta ocorrido
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande lamentou o ocorrido e reforçou que “repudia qualquer forma de intimidação ou agressão aos profissionais da imprensa e ainda condutas consideradas antidemocráticas”. A administração municipal disse ainda que não há mais barracas em frente à Fortaleza de Itaipu, no bairro Canto do Forte.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar (PM), Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) em busca de um posicionamento sobre o ocorrido, mas não obteve um retorno até a última atualização desta matéria.
Nota de repúdio do Grupo Tribuna
O Grupo Tribuna repudia as ameaças sofridas pelo jornalista Matheus Tagé durante reportagem na última segunda-feira. O repórter-fotográfico foi intimidado por três golpistas bolsonaristas acampados em frente à Fortaleza de Itaipu, em Praia Grande, enquanto fotografava a movimentação no local.
Um dos agressores, após ofender o profissional, caminhou na direção de Tagé com uma faca. O departamento jurídico do Grupo Tribuna está ao lado do profissional para tomar providências contra os agressores.
Reforçamos que não iremos tolerar qualquer tipo de ameaça aos nossos profissionais e não mediremos esforços para continuar fazendo um jornalismo isento, sem amarras e sempre a favor da democracia.
Esses canalhas são terroristas. Esse negócio deles falarem, em: pátria, Deus e família é só balela…