Um grupo de intérpretes de Libras (Lingua Brasileira de Sinais) foi impedido de trabalhar numa apresentação do cantor Gusttavo Lima em Teresina, no último sábado (15). A situação deixou os interpretes e a comunidade surda indignados. O g1 não conseguiu contato com a produção do cantor.
Nas redes sociais, a intérprete Aryelle Paiva contou que sua equipe, formada por três intérpretes, esperava para subir ao palco quando foram informados de que não participariam da apresentação. Eles teriam sido impedidos por conta do tamanho do palco, mas o motivo não foi formalmente declarado.
A empresa piauiense que produziu o evento, que contratou a intérprete, teria ainda insistido para que a entrada fosse liberada, mas não foram atendidos.
Assim, a apresentação aconteceu sem ser interpretada para a comunidade surda que estava no evento. Havia pelo menos quatro pessoas surdas, que deixaram o local do show ao saberem que não haveria intérprete.
A presença de um intérprete de Libras é obrigatório em eventos públicos, segundo a lei municipal nº 5920, sancionada em maior de 2023. A lei municipal tem como base a Lei federal nº 10436, que reconhece a Libras como meio legal de comunicação e expressão para a comunidade surda.
Arielle trabalha como intérprete de Libras desde 2015, e é coordenadora de equipes de intérpretes. Desde o início do ano, tem atuado com a produtora de eventos e participou de diversos shows e artistas locais e nacionais no Piauí.
A presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade-THE), Gilmara Costa, disse que o Conselho vai acionar o Ministério Público e Defensoria Pública para avaliar o caso.
“O que aconteceu foi um absurdo. Ter um intérprete de Libras é um direito, é lei. Não podemos nos calar diante disso”, comentou Gilmara.
A Associação dos Profissionais Tradutores Intérpretes de Libras (APILSPI) divulgou uma nota de repúdio contra a atitude da equipe do cantor. Leia a nota abaixo:
O que é libras?
As línguas de sinais usam gestos e movimentos para substituir a comunicação por meio de sons. Elas tem léxico e gramática próprios. Assim como cada povo desenvolveu seu idioma oral, cada comunidade criou sua língua de sinais. Portanto, há versões de diferentes países.
O sistema brasileiro é derivado da língua de sinais que se desenvolveu ao longo dos anos no país e também da língua gestual francesa. Por isso, tem semelhanças com línguas de sinais da Europa e da América.
A libras foi oficialmente reconhecida como uma língua brasileira em 2002, na Lei nº 10.436, de 24 de abril. O projeto da então senadora Benedita da Silva (PT-RJ) foi aprovado no Congresso e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Nota de Repúdio
A Associação dos Profissionais Tradutores Intérpretes de Libras-APILSPI, vem por meio desta nota, manifestar nosso profundo repúdio e indignação em relação à equipe do cantor Gustavo Lima em seu show na cidade de Teresina -Pi.
Durante o referido evento de ontem, dia 14 de julho, a equipe do cantor proibiu a presença de profissionais Intérpretes de libras no palco, mesmo estes profissionais contratados por uma empresa local.
Tal atitude configura-se como CRIME visto que, não houve respeito e cumprimento às leis que preconizam o direito linguístico da pessoa surda: a Lei N° 5.920 de 29 de maio de 2023, que determina a obrigatoriedade de Inclusão de Intérprete de LIBRAS em eventos públicos realizados no Município de Teresina conforme Art. 1º e, das Leis n.º10.436/02 e n°13.146/15 que reconhece a LIBRAS como comunicação oficial e institui a política de inclusão das pessoas com Deficiência.
Com informações do G1
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