SÃO PAULO – “Temos palestras sobre prevenção de doenças, mas nunca nos falam sobre sexo. Acaba faltando informação”. A reclamação é feita pela indígena Silvana Cassupá, de 24 anos, estudante de educação física da Universidade Federal de Rondônia, e expressa uma insatisfação declarada por outros indígenas ao redor do país. Para driblar a curiosidade sobre o assunto, algumas tribos passaram a promover sessões coletivas de cinema pornô, com filmes pirateados de cidades próximas.
— Quando cheguei em campo, os Matis estavam muito interessados na nossa vida sexual. A pornografia era uma coisa nova e eles queriam entender. Viam beijo na boca ou sexo oral, que começavam a experimentar por causa dos filmes — conta Barbara Arisi, que morou por um ano com a tribo do Amazonas, cujo primeiro contato com os brancos data dos anos 1970.
Em uma oficina com os Xavante, do Mato Grosso, Estevão Fernandes foi interpelado pelas mulheres da tribo. Elas estavam preocupadas porque seus companheiros queriam tentar posições sexuais que as lembravam de cachorros. A novidade havia sido importada dos filmes.
— Mesmo a academia ignora esses aspectos, talvez porque ainda queiramos manter uma imagem romântica, idealizada do índio. Ou talvez porque a ciência seja careta demais para dar conta da realidade — diz Barbara.
Por Mariana Sanches (O Globo)
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