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No cinema e no audiovisual em geral, os drones deixaram de ser mera curiosidade tecnológica para se tornarem instrumentos fundamentais nas produções dos últimos anos. Pequenos, ágeis e cada vez mais sofisticados, esses aparelhos voadores mudaram a concepção e execução de tomadas aéreas, permitindo ângulos e movimentos antes restritos a grandes produções com orçamentos robustos.

No mercado global, os números impressionam. Projeções da Drone Insights Industry indicam que o setor deve alcançar US$ 41,3 bilhões até 2026. O Brasil acompanha esse movimento: entre janeiro e maio do ano passado, as importações de equipamentos somaram US$ 16 milhões, 24% acima do registrado no mesmo período do ano anterior. 

Tal avanço tecnológico tem sido determinante para uma gestão de criatividade e inovação mais dinâmica nas produções audiovisuais, sobretudo quando recursos financeiros limitados precisam render resultados visuais competitivos.

Da técnica à narrativa, os novos olhares sobre histórias

O filme “O Lobo de Wall Street” (2013), de Martin Scorsese, marcou o momento em que os drones ganharam protagonismo em grandes produções. O diretor de fotografia Rodrigo Prieto declarou à imprensa que esses equipamentos possibilitavam “tomadas inimagináveis que ajudarão a contar a história de maneira única”.

A economia de recursos é fator decisivo. A ITARC, escola dedicada ao treinamento de drones, destaca como os aparelhos se tornaram “a solução adequada para satisfazer as vontades estéticas e técnicas de muitas produtoras”, principalmente por alcançarem locais inacessíveis aos tradicionais guindastes e helicópteros. A manutenção simplificada e o armazenamento menos complexo completam o quadro de vantagens.

Entre as técnicas mais utilizadas, estão o abrande (movimento lento recomendado para iniciantes), o deslocamento lateral para paisagens, o voo em dois eixos (combinando movimentos para trás e para baixo) e a órbita. Cada configuração produz efeitos visuais específicos, alguns já familiares ao público de blockbusters.

Quando a máquina vira personagem

Mais do que ferramentas técnicas, há cineastas que incorporam os drones como elementos narrativos, transformando-os em personagens que interferem diretamente na trama. O presidente da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine), Arthur Gadelha, menciona em artigo o filme  “Força Maior” (2014), de Ruben Östlund, no qual um aparelho invade um quarto de hotel durante uma conversa tensa, causando um inusitado momento de alívio cômico.

Ele ainda cita, no cinema nacional, “Fim de Festa”, de Hilton Lacerda, filme que também explora a possibilidade. Um drone aparece constantemente observando a casa do policial Breno, interpretado por Irandhir Santos. O equipamento ultrapassa a função estética para se converter em elemento central da tensão social que o filme aborda.

Outro exemplo é “Os Miseráveis” (2019), de Ladj Ly, filme que dividiu o Prêmio do Júri com “Bacurau” no 72º Festival de Cannes. Quando policiais disparam contra uma criança, o som de hélices revela: um drone capturou a cena. A partir daí, a trama se reconfigura em torno da perseguição ao operador do equipamento e à imagem gravada, mais uma demonstração de como a tecnologia no audiovisual transcende o aspecto técnico para se tornar elemento estruturante da narrativa.

Evolução dos equipamentos

As primeiras gerações de drones enfrentavam limitações consideráveis, como segurança, tamanho, sensores e alcance de controle. Atualmente, fabricantes buscam desenvolver sensores maiores em drones cada vez mais compactos e seguros.

O mercado se segmentou para atender diferentes necessidades e orçamentos. O Epics categoriza os equipamentos em faixas distintas: modelos de entrada como DJI Mini e DJI Air, com preços a partir de R$ 4.590, atendem iniciantes; os intermediários, como o Mavic 3 Pro, na faixa dos R$ 30 mil, oferecem “maior autonomia de voo, câmera com qualidade superior e sensores avançados”; já aparelhos profissionais como o Inspire 3 ultrapassam R$ 130 mil, equipados com “câmera 8K e permitindo uso de lentes intercambiáveis e gravações em RAW”.

Produções de alto nível desenvolvem soluções personalizadas. Foi o que aconteceu em “Alerta Vermelho”, da Netflix, que utilizou um drone desenvolvido para o longa, equipado com uma RED Komodo 6K. As cenas de ação contaram com equipe especializada de oito profissionais, entre pilotos e operadores.

Desafios e perspectivas 

Apesar das vantagens, ainda existem limitações. O ITARC alerta que a maioria dos equipamentos suporta ventos de até 55 km/h, com risco de comprometer a estabilidade das imagens. Por isso, a recomendação é evitar filmagens em dias chuvosos, nublados ou em altitudes elevadas durante o inverno.

O aspecto regulatório ganhou importância proporcional à popularização dos aparelhos. Desde 2016, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) supervisiona o uso de drones no Brasil. Paralelamente, a Associação Brasileira de Multirrotores reúne pilotos profissionais e amadores. Segundo dados do Sistema de Solicitação de Acesso ao Espaço Aéreo, gerido pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), já são mais de 150 mil pilotos e 100 mil drones registrados no país.

Para os próximos anos, as projeções são ambiciosas. A LND Produções antecipa que “com o desenvolvimento de tecnologias como inteligência artificial, sensores mais precisos e baterias de maior duração, as possibilidades são infinitas”. Fala-se em drones capazes de seguir objetos automaticamente, capturar imagens em 8K e realizar voos noturnos com qualidade excepcional.