Viver em um ambiente com excesso de barulho pode impactar diretamente a saúde física e mental. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, ruídos contínuos acima de 50 decibéis já são considerados incômodos para ambientes residenciais. Quando expostas a sons constantes, como buzinas, obras e trânsito, as pessoas tendem a apresentar mais dificuldades para dormir, concentração reduzida e maior irritabilidade.

Esse cenário se tornou ainda mais relevante com o crescimento do trabalho remoto e do tempo passado em casa. Desde a pandemia, muitas famílias passaram a priorizar o conforto acústico como parte das melhorias no lar. Um ambiente silencioso passou a ser não só sinônimo de bem-estar, mas também de produtividade.

No Brasil, o último censo do IBGE sobre moradia constatou que 84,8% da população vive em casas e 12,5% em apartamentos. Isso significa que boa parte dos brasileiros convive diretamente com os sons das ruas, como trânsito, comércio e vizinhança. Mesmo sem reforma estrutural, há medidas que podem ajudar a reduzir significativamente os ruídos externos e tornar o dia a dia mais tranquilo.

Reforço em portas e janelas

A maioria dos ruídos vindos de fora entra por frestas e superfícies finas. As janelas e portas costumam ser os principais caminhos por onde o som passa. Por isso, começar o processo de isolamento acústico por esses pontos é uma das maneiras mais simples e acessíveis de obter resultados.

Uma solução imediata é a vedação com borrachas adesivas específicas para esquadrias. Esse tipo de material preenche as frestas e impede que o som externo passe com facilidade.

Para janelas mais antigas ou que não fecham corretamente, a substituição por modelos mais modernos com vidro duplo ou laminado pode representar uma grande diferença na redução do barulho. Esse tipo de vidro tem uma camada de ar entre as lâminas, o que dificulta a propagação do som.

Portas maciças também bloqueiam melhor o som do que as do tipo oca. Em alguns casos, instalar um cortineiro acústico ou uma segunda porta de correr, feita com material isolante, pode melhorar o desempenho sem modificar a estrutura original da casa.

Cortinas, tapetes e móveis

Sabe os elementos que parecem apenas decorativos? Sim, eles podem ajudar bastante na absorção sonora dentro dos cômodos. Cortinas pesadas, com tecidos como veludo ou algodão grosso, funcionam como barreiras que reduzem a reverberação do som. Quanto mais espesso o tecido, maior a capacidade de absorção.

Tapetes de grande superfície, principalmente os que têm fibras densas, ajudam a conter o som que entra pelo chão ou que ecoa dentro do ambiente. Estantes cheias de livros, quadros e até almofadas também têm esse papel. Eles não bloqueiam o som externo, mas ajudam a amenizar a sensação de reverberação que aumenta o incômodo dos ruídos.

Essa combinação de materiais têxteis com mobiliário estratégico é bastante usada em projetos arquitetônicos voltados para home office ou espaços de leitura. Eles criam um ambiente mais aconchegante e silencioso sem grandes intervenções na estrutura do imóvel.

Investimento em intervenções estruturais

Em locais com ruído excessivo e constante, algumas intervenções estruturais podem ser necessárias. A instalação de revestimentos acústicos nas paredes e tetos, por exemplo, contribui para bloquear sons vindos de fora e ainda melhora a qualidade sonora dentro do cômodo.

Painéis acústicos feitos de lã de rocha, lã de vidro ou espumas especiais são aplicados com certa facilidade por profissionais da área. Eles não são visíveis, pois ficam sob o acabamento final das paredes. Para quem está reformando, é possível incluir materiais isolantes entre o drywall e a alvenaria, o que aumenta a proteção contra ruídos.

O uso de massa acústica nas paredes também é uma alternativa quando o objetivo é evitar a troca de materiais. Trata-se de um produto pastoso aplicado como pintura, que endurece e cria uma barreira sonora eficiente. Em prédios ou casas geminadas, esse tipo de solução costuma ser usado entre cômodos que fazem divisa com outras unidades.

De acordo com estudo da Associação Brasileira para Qualidade Acústica (ProAcústica), ambientes com bom tratamento sonoro têm impacto direto na qualidade de vida e na saúde dos moradores. A pesquisa indicou que pessoas expostas a menos de 40 decibéis durante o sono apresentaram menor incidência de insônia, ansiedade e variações de humor.

Ruído vertical: telhados e lajes

Embora menos lembrados, os telhados e lajes também influenciam na entrada de ruídos, principalmente em casas térreas. Em dias de chuva, por exemplo, o som das gotas em telhas metálicas pode ser muito mais alto do que em telhas cerâmicas ou telhados com manta isolante.

Ao planejar reformas, considerar os modelos de telhados pode fazer diferença no conforto acústico. Telhas sanduíche, compostas por duas camadas metálicas com isolante térmico e acústico entre elas, são uma opção que reduz tanto o som quanto o calor. Já as mantas de isolamento aplicadas sob o telhado podem ser incluídas mesmo em estruturas já existentes.

Em apartamentos, a cobertura da laje entre vizinhos com piso vinílico, tapetes ou placas acústicas também ajuda a conter sons vindos do andar superior. Esse cuidado é especialmente importante em prédios com construção mais antiga, onde o isolamento entre as unidades costuma ser limitado.

Ruído controlado

Reduzir o impacto dos ruídos externos é uma forma direta de melhorar a qualidade de vida dentro de casa. Com soluções simples ou ajustes mais profundos, é possível construir um espaço mais silencioso, confortável e propício ao descanso, ao foco e à convivência.

Em um país onde a maioria vive em áreas urbanas com intenso tráfego, pensar no isolamento sonoro da casa é tão importante quanto cuidar da ventilação ou da iluminação. Um ambiente acusticamente equilibrado transforma a relação com o lar e traz benefícios que vão muito além do silêncio.