O autismo é uma condição neurológica que afeta cerca de 70 milhões de pessoas no mundo, sendo 2 milhões só no Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar da possibilidade de identificar os sinais nos primeiros anos de vida, muitas pessoas recebem o diagnóstico de autismo tardio.
A confirmação do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é baseada em critérios clínicos, por meio da análise do comportamento e do desenvolvimento da pessoa. Não há um exame de sangue ou de imagem que forneça o diagnóstico. Por isso, é aconselhável que a avaliação seja feita por uma equipe multiprofissional.
Segundo o Ministério da Saúde, a condição pode ser percebida nos primeiros meses de vida, com o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 ou 3 anos. No entanto, muitas vezes, os sinais são ignorados, minimizados ou confundidos com timidez, ansiedade, déficit de atenção ou hiperatividade.
Muitas pessoas chegam à idade adulta sem saber que são autistas, o que impõe dificuldades. Esse foi o caso do psicólogo Lucas Pontes de Andrade, diagnosticado apenas aos 20 anos.
“Infelizmente, com base em preconceitos e achismos, os médicos que passei durante a minha infância descartaram a possibilidade do diagnóstico do autismo, de maneira equivocada”, relatou em entrevista à imprensa. Ele também revela que recebeu o diagnóstico de ansiedade e depressão antes de descobrir que se tratava de autismo.
No ano passado, a atriz Letícia Sabatella também contou à imprensa como foi receber o diagnóstico do TEA aos 52 anos. Para ela, a informação foi “libertadora” por permitir a compreensão de sinais que a acompanharam desde a infância, como a hipersensibilidade sensorial, sobretudo, para volumes altos de sons.
De acordo com as autoridades de saúde, o diagnóstico tardio do TEA impede o tratamento adequado para cada caso por muitos anos, o que pode prejudicar as habilidades sociais e cognitivas.
Sintomas de autismo em adultos
O autismo é classificado como um dos transtornos do neurodesenvolvimento, capaz de afetar a comunicação, o comportamento e a interação social. De acordo com o diretor do Núcleo de Autismo do Espaço Cel, Dyego Oliveira, os indivíduos dentro do espectro podem exibir padrões comportamentais repetitivos, demonstrar interesses intensos e focados. Além de manifestar sensibilidades sensoriais aumentadas ou diminuídas, entre outras características.
Para a neurologista da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, Beatriz Borba Casella, os sintomas podem variar muito, seja na fase adulta ou infantil. “Apesar de terem em comum o fato de apresentarem limitações de interação e comunicação social, interesses restritos ou comportamentos repetitivos, não existe um caso igual ao outro. Cada indivíduo é único”, explicou em entrevista à imprensa.
Apesar disso, Beatriz alerta para sinais comuns, como o hiperfoco, dificuldade para se comunicar e se relacionar com outras pessoas e exaustão após eventos sociais. Apesar disso, o adulto com autismo “pode ter criado estratégias ao aprender a mimetizar o comportamento dos outros, às custas de grande esforço.”
Um ponto de atenção indicado por Casella é a sensibilidade sensorial ou a capacidade de perceber e processar estímulos sensoriais do ambiente. “O incômodo com sons altos, determinadas texturas ou odores podem persistir por toda a vida, porém o adulto pode também ter criado estratégias para lidar com essas dificuldades”, completa.
A importância do diagnóstico
O diagnóstico, mesmo que tardio, pode ser um alívio para a pessoa, pois abre as possibilidades para que seja feito o tratamento para autismo da forma correta. A coordenadora do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo ( IPq/HCFMUSP), Joana Portolese, fala sobre o assunto à imprensa.
“Quando a pessoa descobre que é autista, ela se conhece melhor e passa a entender as limitações com as quais vêm lidando”, avalia. Além disso, Portolese explica que nomear a condição pode facilitar o acesso às informações e a inclusão em redes de apoio.
Para Marcelo Vindicatto, que foi diagnosticado aos 50 anos, o diagnóstico foi recebido com alívio. “Ser diagnosticado me trouxe um alívio muito grande, me ajudou a entender porque sempre tive dificuldade com coisas que são fáceis para pessoas típicas, como namorar, ter amizades e convívio social”, afirmou em entrevista.
Com o diagnóstico, a pessoa pode ter acesso à Política Nacional da Pessoa com Deficiência, uma iniciativa do Ministério da Saúde que visa garantir os direitos e a qualidade de vida das pessoas com deficiência no Brasil. Em 2023, o tratamento do TEA foi incluído nesta política.
Com o tratamento adequado, as pessoas com autismo podem desenvolver suas potencialidades e participar ativamente da sociedade. O Ministério da Saúde disponibiliza uma cartilha com orientações sobre o autismo, que pode ser acessada no site oficial do órgão.
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