A Umbanda completa 114 anos nesta terça-feira (15). Fundada em 1908, a religião foi reconhecida como afro-brasileira e encanta aqueles que cultuam as entidades. O Dia Nacional da Umbanda é comemorado na mesma data de fundação.

Ritual de Fecha Corpo realizado pela Tenda de Umbanda Sete Linhas de Aruanda — Foto: Taíne Correa

A Umbanda é baseada no culto dos orixás, caboclos, pretos-velhos, erês, exu, pomba-gira, baianos e boiadeiros e tem três conceitos principais: caridade, luz e amor. O significado de umbanda é “arte de curar” e resume a missão dos religiosos: ajudar pessoas através da ancestralidade e do amor.

“A minha vida mudou muito positivamente, eu ganhei paz. A Umbanda virou meu refúgio. É um lugar onde eu me desligo, só vivo aquilo ali e aquele axé”, conta Isis Sant’Anna, que faz parte da religião há pouco mais de um ano.

De acordo com o IBGE, na última pesquisa mais de 400 mil pessoas se declaravam umbandistas no Brasil, no ano de 2010. Muitas histórias são parecidas, as pessoas procuram acolhimento e ajuda para os seus problemas dentro da religião.

“É muito bonito de se ver que a pessoa vem com as dificuldades dela, os problemas, e você ajuda a encontrar um caminho, dá uma luz aquela pessoa. É muito gratificante, ainda mais quando tudo se resolve”, relata um pai de santo, conhecido como Raimundo de Obaluaê.

Isis conta que sempre frequentou festas e eventos dos terreiros, mas não fazia parte de nenhum. Ela resolveu se tornar membra em um momento que precisava de ajuda.

“Eu já frequentava antes de ser filha. Antes de eu entrar, minha mãe recebeu um recado de uma entidade dizendo que eu estava muito mal psicologicamente, que eu precisava de ajuda e a psicologia humana não estava dando conta. Eu estava muito depressiva, muito ansiosa. Foi quando eu comecei a frequentar, eu fui muito abraçada, muito acolhida, bem recebida. A Umbanda me ensinou muita coisa, me ensinou que o amor pode curar, é o ensinamento mais lindo que eu tenho da religião”, conta a jovem.

Quadro em homenagem a Iemanjá e Xangô — Foto: Arquivo pessoal

A família de Raimundo também conheceu a religião em um momento de ajuda.

“Eu sou filho de Maria de Lourdes, foi ela que fundou isso aqui. Eu só dou continuidade a tudo que ela começou. Ela foi tirada da rua e cuidada por uma mãe de santo, minha mãe deu a vida para construir esse terreiro, e eu dou a minha para manter. Eu passei fome e passo para manter isso aqui de pé”, conta o umbandista.

Ele também ajuda outras famílias que necessitam.

“Tem uma bebê que está internada, todos os dias eu oro e acendo velas por ela, os pais são evangélicos, mas isso não importa, fazer o bem sem olhar a quem, é essa a minha religião. A nossa religião é fundada no amor e caridade, essa é a parte mais importante”, afirma o pai de santo.

Os cuidados são físicos, espirituais e emocionais.

“Não tem nada que compense ou substitua um abraço e uma conversa com um preto velho, um abraço de avô. Eu entrei para a religião um mês antes da minha vó falecer, foi um lugar para me apoiar. O acolhimento é algo incrível de se ver. Você é amado antes de saber quem te ama. Eles te amam e prezam por você”, relata Isis.

“É muito além de vestir uma roupa branca, tirar foto e postar para tirar onda. É amor ao próximo, é caridade, é ser solidário, assim como você precisou, outras pessoas vão precisar. Nós não somos ruins, não fazemos o mal, a minha Umbanda ensina a dar amor a quem não tem amor, completa ela.

Comemoração

A data será comemorada com muita festa. Fundado no mesmo dia em que se homenageia a religião, o Movimento Umbanda Rio completa nove anos. A festa será em Cascadura e conta com as presenças de Teresa Cristina, madrinha do evento, e dos intérpretes Evandro Malandro e Grazzi Brasil.

Um dos maiores encontros de terreiros do Brasil é liderado pelo Pai Alex d’Oxalá e terá a presença da Escola Acadêmicos do Grande Rio, atual campeã do carnaval carioca que homenageou Exu em seu samba-enredo deste ano. A entidade é a ponte entre os humanos e os orixás, são guardiões e protetores da noite.

Com informações do G1