Ao longo dos últimos anos um nome tem se tornado bastante conhecido entre a juventude da cidade de Codó, em especial entre a juventude negra e os jovens de religião de matriz africana, esse nome é Coletivo Núcleo. Entidade e movimento cultural com reconhecimento de seu trabalho em Codó e região, o grupo surgiu em 2016 com a proposta de realizar encontros com música, dança, rodas de conversas, exibição e debate de filmes e claro, muita cultura afro-brasileira. Na reunião de apresentação, realizada em 23 de abril de 2016, passaram pelo Centro de Cultura mais de 120 pessoas dos mais variados bairros e movimentos sociais/culturais. Passados cinco anos daquele dia histórico, o grupo se prepara para celebrar mais um aniversário.
Ouvimos dois de seus fundadores, o MC Mano Robson e a professora Dácia Abreu, ambos conhecidos e reconhecidos em Codó e outros estados por desenvolverem iniciativas de combate ao racismo e pela valorização da cultura negra e que recentemente foram contemplados com o Prêmio Zeli Gomes para “Mestres de Cultura Afrobrasileira” e ainda pela Lei Aldir Blanc de auxílio emergencial da cultura.
Perguntamos ao Mano Robson:
Qual a principal motivação que fez nascer o Coletivo?
“O Coletivo Núcleo, é uma organização que veio para promover cultura e educação, dentro das comunidades carentes da cidade de Codó, uma vez que sabemos que a cultura é um atrativo importante para o jovem em situação de risco, cercado por todos os malefícios, que o habitat natural chamado de periferia lhes proporcionam. Sabemos que um povo sem cultura, não se levanta, se ajoelha.”
E segue destacando:
“Nessa perspectiva de libertação surgimos, afinal de contas individualmente, há anos lutamos por igualdade de direitos dentro de nossa cidade, onde crescemos e vivemos até os dias atuais. Nós, Dácia e eu, somos primos e temos a cultura Hip Hop como um gosto comum: nós entendemos esses assuntos de um jeito parecido. Mesmo com todas as dificuldades, Dácia, principal mentora desse gradioso projeto, nunca desistiu, têm se empenhado muito, mesmo sendo professora da rede municipal, nunca deixou de ser militante. Eu não vivi esses 5 anos ativamente dentro do Coletivo Núcleo, mais a vontade que eu tenho de estar dentro dele, é bem maior que no início. Então, Coletivo Núcleo, meus parabéns pelos seus 5 anos, Tamu Junto!
Antes da pandemia, para realizar o calendário de atividades do grupo – ensaios, treinos de capoeira, grupos de estudos, vivências, Ocupação Cultural na Praça Palmério Cantanhede e o encontro educativo-cultural itinerante Traficando Informação – era comum ver a professora Dácia Abreu pela cidade sempre acompanhada dos jovens que integram o grupo. Outras duas iniciativas da entidade são a Biblioteca Comunitária Ribinha Muniz” com o seu Projeto de Leitura “Clube do Livro” e também a Companhia de Artes TeAfro que é a incubadora do projeto de audiovisual “DANO NODA”. Ela nos conta o que a motiva integrar e fazer acontecer o Coletivo Núcleo.
– Sou historiadora com especialização em História do Maranhão além de professora e sempre vi, antes como aluna e hoje profissional da educação, a persistência de, o saber escolar, tratar africanos e afrodescendentes e seus saberes ancestrais de maneira a justificar o racismo usando de práticas racistas – o que parece aceitável ou normal. Com o Núcleo vamos na contramão: “Na sua terra e, para nós, o negro é gente, forte, bonito, puro, guerreiro e rei, além de juntos a gente estar sempre buscando aprender sobre como aconteceu a colaboração ativa e essencial de africanos e afrodescendentes para a formação da Humanidade e da nossa sociedade nacional como obriga a Lei 10.639/2003 que acabou de completar 18 anos.”
Se você acha que um movimento cultural de combate ao racismo, feito pela juventude, sem ligações com grupos políticos, que valoriza a cultura negra local, correndo pelo certo alcança a metade de uma década sem passar por dificuldades? Você está enganado, pois é necessário firmar parcerias, solicitar apoio, dialogar com as comunidades impactadas, isso tudo exige tempo e recursos e mesmo apesar de sempre enfrentar desafios todos nós nos orgulhamos de fazer parte da história recente da cidade.
Para marcar essa data importante será realizado o TRAFICANDO INFORMAÇÃO/LIVE SHOW “Coletivo Núcleo – 5 anos”, dia 24 de abril as 19h nas redes sociais do grupo @coletivonucleocodo. Sobre a programação Dácia explica:
“Faremos blocos culturais organizados pelas manifestações artístico-culturais da juventude local: ESPIRITUALIDADE AFRO/ DANÇA E CORPOREIDADE/MUSICALIDADE. Tudo isso num movimento de resgatar aquilo que o racismo rouba de quem é discriminado que é a valorização da sua condição de ser uma vida, de ser um existência que não tem preço. Para isso a gente convida os fazedores de cultura entre os jovens para exercitarem seus dons e saberes em um momento de celebração.
E finaliza dizendo:
Nesses cinco anos, circulamos por quase toda a cidade, fizemos, juntos, coisas maravilhosas e construímos uma rede, pequena, mas uma rede que consegue ser sentida pela sociedade – uma verdadeira reação em cadeia. Ousamos sonhar que Codó deve ser uma mãe melhor com seus filhos afrocodoenses. A gente viu tanta gente potente passar por aqui, tantos diamantes preciosos e agradece a todos por terem estado conosco. Hoje a gente convida para mais uma vez festejar o orgulho e a beleza de ser quem nós somos: “Vem celebrar com a gente pessoal!” Nas redes sociais, no @coletivonucleocodo, dia 24 de abril as 19h.
TEXTO ENVIADO PELA ORGANIAÇÃO DO EVENTO
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