O líder camponês do interior do Maranhão, Manoel Conceição (1935), sobrevivente da ditadura militar, receberá aposentadoria especial do Governo do Maranhão, a partir de Projeto de Lei que será assinado, no próximo sábado (30), pelo governador Flávio Dino (PCdoB). Pelo Twitter, o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), parabenizou a iniciativa.
“Com muita alegria recebi convite Governo do Maranhão para a solenidade em que Fávio Dino assinará o projeto que concede pensão ao histórico líder camponês Manoel da Conceição, vítima da violência ditatorial instituída por um golpe em 1964. Parabéns, Flávio Dino. Viva o grande Mané!”, celebrou o parlamentar.
O camponês presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pindaré-Mirim, a 177 km da capital São Luís, quando os militares deram o golpe e ocuparam a sede daquele que foi o primeiro sindicato rural da história do Maranhão. Filho de evangélicos da Assembleia de Deus, Manoel foi preso e torturado pelos policias da ditadura. Baleado em 1968, quando o Maranhão era governado por José Sarney, que se tornaria presidente de Brasil (1985-1990), teve sua perna amputado por falta de tratamento.
Em entrevista recente ao jornal Brasil de Fato, o sindicalista contou sua relação com o ex-presidente. “Sarney fez uma campanha com um discurso bonito em 1966 para governo do Maranhão. Eu acreditei nele e os camponeses em geral apoiaram sua candidatura, principalmente no tema da reforma agrária. Mas quando foi eleito, combateu com bastante violência as ações dos camponeses no Maranhão. Eu cortei todas as relações que eu tinha com Sarney há muito tempo. Ele nunca mais me procurou também”, disse.
A barbárie a que foi submetido nos anos 1970 foi tanta que até o papa Paulo VI chegou a intervir, pedindo sua imediata libertação. Sua história está contada no relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV). No documento, um relato de Manoel explica as torturas que sofreu. “Levantaram meus braços com cordas amarradas ao teto, colocaram meu pênis e os testículos em cima da mesa e com uma sovela fina de agulhas de costurar pano deram mais de trinta furadas. Depois bateram um prego no meu pênis e o deixaram durante horas pregado na mesa”. Quando Manoel conseguiu a liberdade, fugiu para o exílio e foi recebido por Paulo Freire.
Com a Lei da Anistia, em 1979, Manoel casado e com uma filha, decidiu voltar ao Brasil, e se mudou para Recife. Segundo sua esposa, a assistente social Maria Denise Barbosa Leal, o sindicalista foi terceiro a assinar a ficha de filiação do Partido dos Trabalhadores (PT), criado em fevereiro de 1980. Chegou a concorrer a alguns cargos, mas não obteve sucesso nas urnas.
Em 2010, Manoel voltou as manchetes por, ao lado do então deputado federal Domingos Dutra e da ex-deputada federal Terezinha Fernandes. Chegou a fazer greve de fome contra o apoio do PT à reeleição de Roseana Sarney (PMDB) para o governo do Maranhão.
Por Saulo Marino (Portal Vermelho)
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