Um estudo publicado na quarta-feira (16) na revista científica The Lancet Planetary Health revelou que o arroz pode se tornar cada vez mais tóxico com o agravamento das mudanças climáticas. Isso ocorre porque, além de ser cultivado submerso em arrozais, o grão possui uma textura porosa que favorece a absorção de arsênio — uma substância altamente tóxica e cancerígena presente naturalmente no solo, na água e em alguns alimentos, como peixes e mariscos.
A pesquisa foi conduzida por Lewis Ziska, fisiologista vegetal e professor associado da Universidade de Columbia, em Nova York, em parceria com cientistas dos Estados Unidos e da China. Eles analisaram como diferentes variedades de arroz respondem ao aumento da temperatura e dos níveis de dióxido de carbono (CO₂), dois dos principais fatores associados ao aquecimento global.
Os resultados mostraram que, com a elevação simultânea da temperatura e do CO₂, a concentração de arsênio inorgânico nos grãos aumentou significativamente. “Sabíamos que a temperatura por si só podia elevar os níveis, e o dióxido de carbono também, um pouco. Mas quando combinamos os dois, foi realmente surpreendente. Estamos falando de um alimento básico consumido por bilhões de pessoas todos os dias, e qualquer impacto na sua toxicidade terá consequências graves”, afirmou Ziska.
A exposição prolongada ao arsênio inorgânico está associada a diversos tipos de câncer, como os de pele, bexiga e pulmão, além de doenças cardíacas e distúrbios neurológicos, especialmente em crianças. Pesquisas anteriores já haviam identificado um maior risco de câncer em regiões com alto consumo de arroz contaminado.
Diante do cenário, os pesquisadores defendem medidas como o desenvolvimento de variedades de arroz menos propensas a absorver o arsênio, maior rigor na regulamentação agrícola e campanhas de conscientização sobre alternativas ao consumo do arroz.
Cultivado em larga escala e consumido diariamente por cerca da metade da população mundial, o arroz é considerado o alimento básico mais importante do planeta — o que torna ainda mais urgente a atenção para os riscos apontados pelo estudo.
Deixe um comentário