“Saber que eu ia poder ver o mar quando ficasse boa me deu forças para seguir o tratamento”, disse a adolescente Kauani Rodrigues Coqueiro, de 14 anos. Natural do município de Codó, ela estava internada há 19 dias no Hospital da Ilha, em São Luís, para tratar de um tipo grave de anemia. Nesta quarta-feira (31), além da boa notícia de que receberá alta médica, ela também soube que realizaria um dos seus maiores sonhos: conhecer o mar.
Localizado na porção leste do estado, Codó é banhado pelo Rio Itapecuru, mas não pelo mar, por isso, Kauani nunca teve a oportunidade de ir à praia. A sua primeira viagem para São Luís, infelizmente não foi para conhecer a bela orla da Ilha, mas sim para tratamento médico, mas o destino lhe reservou surpresas agradáveis.
Kauani sofre de um tipo grave de anemia e precisou receber atendimento especializado na capital, ficando sob os cuidados das equipes médicas do Hospital da Ilha. Foram 19 dias de um tratamento muito difícil. “Eu chorava muito com medo de não ficar boa, porque quando o médico vinha, ele não me dava notícias muito boas. Mas com o tempo o comecei a entender que eu tinha que ficar calma e acreditar que ia dar tudo certo”, conta a jovem, que ainda chora ao se lembrar dos momentos difíceis do período de internação.
Realizando um sonho
A ida de Kauani à praia aconteceu na manhã desta quarta-feira (31) seguindo todas as recomendações médicas, incluindo o horário adequado de exposição ao sol, antes das 10h e depois das 16h.
Por volta das 9h, a adolescente, acompanhada de seus pais e de uma equipe formada por psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, fonoaudiólogos e de serviço social, saiu do Hospital da Ilha e seguiu até a Praça dos Pescadores, na Avenida Litorânea, um dos principais cartões postais de São Luís.
Chegando ao local, Kauani foi surpreendida também com as cores do São João do Maranhão que agora enfeitam o monumento. Com cuidado ela foi conduzida do calçadão até a faixa de areia, de onde pôde finalmente caminhar pela primeira vez até o mar.
O primeiro contato foi tímido. De uma certa distância para admirar o vai e vem das ondas. Aos poucos ela tomou coragem e molhou os pés pela primeira vez e em seguida deu alguns passos mais à dentro. Ao sentir as ondas baterem em seus pés pela primeira vez, Kauani não segurou a emoção e caiu no choro. Claro que não poderia faltar a tradicional “provadinha” na água para saber se ela realmente é salgada como dizem.
“Foi perfeito. Eu me senti bem. Fiquei um pouco tonta porque não estou acostumada com o mar, mas achei tudo bem bonito, bem legal, bem divertido. A equipe médica foi toda maravilhosa, me trataram super bem, me davam presentes e agora realizaram meu sonho. Eu nem sei como agradecer”, disse Kauani após voltar para o calçadão.
A dona de casa Maria José Rodrigues, 43 anos, mãe de Kauani, também ficou feliz ao ver a filha realizar o sonho. “Eu sempre imaginei que isso ia acontecer. Ela chorava preocupada, com medo de não ficar boa e não conseguir ver o mar, mas eu sempre disse a ela que ia ficar boa para voltar para casa e que antes a gente ia passar na praia. Graças a Deus deu tudo certo e o próprio hospital realizou esse sonho”, comentou.
Escuta humanizada
A adolescente tem anemia hemolítica autoimune, que se caracteriza pela produção de alguns anticorpos pelo organismo que atacam e destroem os glóbulos vermelhos do sangue. A doença não tem causa determinada, estando associada a diversos fatores e também pode ser de vários tipos.
Durante os 19 dias em que esteve internada na unidade, ela acabou contando para a equipe médica que a acompanha que um dos seus maiores sonhos era conhecer o mar. No entanto, seu estado de saúde não permitia que ela deixasse a unidade, mas em segredo o médico responsável pelo tratamento de Kauani, Dimitrius Garbis, que é diretor clínico e médico assistente no Hospital da Ilha, começou a organizar a realização do sonho da garota.
“Quando a Kauani foi recebida aqui no Hospital da Ilha, além de todo o atendimento médico necessário para diagnosticar qual era exatamente o quadro clínico dela, para que fosse iniciado o tratamento, foi feita toda a escuta empática, tanto pela equipe médica quanto pela equipe multidisciplinar, que é composta por psicólogos serviço social e outros profissionais. E a partir disso foi identificado o desejo dela de conhecer o mar”, explica Dimitrius Garbis.
A ida de Kauani à praia faz parte da Política Nacional de Humanização (PNH), que existe desde 2003 para efetivar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. A PNH deve se fazer presente e estar inserida em todas as políticas e programas do SUS.
Segundo o diretor clínico do Hospital da Ilha, Dimitrius Garbis, a Política Nacional de Humanização traz vários benefícios para o paciente e o sistema de saúde. “Esta é uma política que surge não apenas de uma demanda da própria sociedade, mas também de estudos científicos que demonstraram que os pacientes que recebem esta escuta empática conseguem reduzir as comorbidades durante a internação e até mesmo o tempo de permanência nas unidades hospitalares”, disse.
Após a ida à praia, Kauani voltou para o Hospital da Ilha para receber alta e poder voltar para Codó levando na bagagem a saúde recuperada, a lembrança inesquecível de sua primeira vez junto ao mar e a vontade de realizar novos sonhos. “Eu tinha dois grandes sonhos. Um deles era conhecer o mar. O outro é conhecer os meus ídolos do BTS”, confessa.
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